“Sacana bonito da pêga” | Índio Pataxó de Jequié é a nova aposta no mercado da moda

24 de setembro, 2020 Por efuxico.com Off
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No começo da adolescência, entre os apelidos que recebeu dos colegas “fuleiros”, “canela de sabiá” era um dos que mais incomodavam Noah Alef. Isso quando não vinha acompanhado de uma imitação barata de alguém batendo a mão na boca emitindo “uh uh uh”. Agora, o rapaz de origem indígena ri disso tudo. Afinal, foram justamente suas origens e as longas pernas em seus 1,85m de altura que o colocaram como a nova aposta brasileira da moda masculina.

Aos 20 anos, o jovem da periferia de Jequié, no Sul da Bahia, acaba de ser contratado pela Way Model, mesma agência que tem Sasha Meneghel e Alessandra Ambrósio em seu cast. “Posso dizer que estou realizando um sonho antigo. Sempre quis ser modelo, mas achava que seria difícil por ser um índio”, conta o jequieense.
Descendente dos Pataxós, Noah Alef não nasceu numa aldeia como a grande maioria imagina. Mas carrega na cor da pele, no cabelo liso e negro e no sorriso largo a garra de seus antepassados. Algo que ele próprio já tentou renegar. “A gente tem tanto medo do preconceito, que eu já quis ser diferente. A profissão ajuda no resgate da minha autoestima”, largou o sacana.
Atento aos problemas que seus “irmãos indígenas” estão passando nas aldeias, principalmente na Amazônia e no Pantanal, Noah quer dar visibilidade à causa e à diversidade. “É o que mais quero: poder mostrar as raízes do meu povo. Sei que essa é uma grande responsabilidade também. Mas é tão importante que o mundo conheça nossos traços originários e a beleza que a gente tem. Além de poder chamar atenção para nossos problemas. Há índios morrendo para apagar os incêndios e tendo que deixar sua terra porque o verde está se transformando em cinzas”, justifica.
Até fazer suas primeiras fotos e tentar a carreira na cara e coragem por um período pequeno em São Paulo, Noah foi empacotador numa fábrica de camisas e auxiliar de pintor na cidade sol. “Esses trabalhos me ajudaram a valorizar ainda mais o que eu tenho agora. Chegar até aqui não foi fácil. Minha família é bem humilde e tenho a chance de mudar tudo isso”, observa o garoto cabeça no lugar.
Foi o avô, índio, que o ajudou a comprar as passagens para que ele fosse “tentar a sorte na cidade grande”. “Ele pegou a aposentadoria e me deu para poder viajar. Minha avó, costureira, é minha fã número um e quando pode me ajuda no que for preciso. Inclusive fazendo minhas roupas. Faz tão bem que fica até melhor do que se eu tivesse comprado”, diz ele, que pretende aprender o ofício enquanto não retorna a São Paulo.
Inspirado em Gisele Bündchen, Noah espera que a moda também seja seu caminho. “Ela levou tantos nãos e chegou onde está, com persistência e disciplina. Sei que o mercado da moda é diferente para homens e mulheres, mas um dia quero servir de inspiraçao para outros jovens, indígenas como eu, para que também possam estar numa passarela”, planeja ele, que pretende cursar Odontologia: “Sei que é um curso caro, acima da minha possibilidade atual, mas como modelo posso ter a oportunidade de realizar esse objetivo”.
Fonte: Extra