Brumadense Concluí Mestrado na UESB em Jequié.
1 de abril, 2025
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Mariana Caroline, Formada em Licenciatura em Teatro, professora, pesquisadora, artista, diretora musical, cordelista, Poetisa, filha, neta e sobrinha da Família Tenebas (nome carinhoso dado a família Ribeiro/Pereira) tornou-se Mestra em Relações Étnicas e Contemporaneidade, pelo Programa de Pós graduação em Relações étincas- PPGREC, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – campus Jequié, no último sábado, 29/03. Seu tema foi “Escuta de uma pé de véia no NIEFAM: oficinas de teatro e musicalidade como metodologias para acessar as memórias ancestrais de mulheres da terceira idade” onde, a partir dos jogos teatrais e músicas diversas, pedia para as senhoras rememorarem suas histórias independente do tempo. Muitos causos foram compartilhados e transformados em cordéis. Muitos dessas histórias tem um pouco de sua família como a de sua bisavó Sadu e o pé de seriguela de seu quintal ancestral e afetivo.
Pé de seriguela afetivo
Na casa de minha bisavó, tem um pé de seriguela. Esse pé é ancestral. Desde suas raízes que são profundas, o seu caule que é forte, as suas folhas que são verdes, os seus galhos, os seus frutos, as suas sementes que viram comida para pássaros e mais pássaros que adoram visitar e cantarolar por lá. Às vezes eu acredito que alguns pássaros que cantam no pé de seriguela seja minha bisavó… porque ela sempre está presente naquela casa mesmo hoje estando em outro plano.
Esse pé de seriguela é ancestral.
Nele passou o meu avô, filho de minha bisavó, passaram
os meus tios, irmãos do meu avô, passaram a minha mãe, a minha tia, os meus outros tios, filhos da minha avó e do meu avô, que também crianças subiam nesse pé para pegar as melhores seriguelas que sempre ficavam no topo da árvore.
também tive o privilégio de conhecer a minha bisavó e toda sua sensibilidade ainda em vida, ainda em terra, ainda fisicamente.
E também passei pelo pé de seriguela, eu e minhas primas. A gente subia, a gente brincava, pendurava nos galhos e subia até o topo para poder pegar as melhores seriguelas, as mais suculentas. Minha bisavó sabia que minha tia, eu e minhas primas adorávamos comer seriguela com sal. Então, ela ia bem mansinha, calma, com um paninho na cabeça, com seus cabelos todos brancos e deixava um potinho de sal perto da comida dos passarinhos. E quando a gente ia brincar na casa dela e a gente subia nesse pé estava lá o potinho de sal. Isso era uma das formas de demonstrar seu amor. Os pássaros que cantam e que comem de seus frutos, é um pouco da minha bisavó, porque é um lugar calmo, afetivo, é um lugar ancestral.
Em frente desse pé de seriguela tem uma área onde até hoje todo mundo da família senta para contar causos, tomar café lembrar de minha bisavó Sadu e assim mergulhar nessas memórias afetivas. Ai se esse pé de seriguela falasse… Na verdade ele canta através dos passarinhos.
As vezes eu sinto que Vó Sadu ainda está ali sentadinha e quando fecho os olhos ouço o canto dos pássaros e lembro de sua voz mansa, começo a imaginar todas as lembranças e legados ancestrais que nossa passarinha nos deixou aqui em terra.