Aos 20 anos, o jovem da periferia de Jequié, no Sul da Bahia, acaba de ser contratado pela Way Model, mesma agência que tem Sasha Meneghel e Alessandra Ambrósio em seu cast. “Posso dizer que estou realizando um sonho antigo. Sempre quis ser modelo, mas achava que seria difícil por ser um índio”, conta o jequieense.
Descendente dos Pataxós, Noah Alef não nasceu numa aldeia como a grande maioria imagina. Mas carrega na cor da pele, no cabelo liso e negro e no sorriso largo a garra de seus antepassados. Algo que ele próprio já tentou renegar. “A gente tem tanto medo do preconceito, que eu já quis ser diferente. A profissão ajuda no resgate da minha autoestima”, largou o sacana.
Atento aos problemas que seus “irmãos indígenas” estão passando nas aldeias, principalmente na Amazônia e no Pantanal, Noah quer dar visibilidade à causa e à diversidade. “É o que mais quero: poder mostrar as raízes do meu povo. Sei que essa é uma grande responsabilidade também. Mas é tão importante que o mundo conheça nossos traços originários e a beleza que a gente tem. Além de poder chamar atenção para nossos problemas. Há índios morrendo para apagar os incêndios e tendo que deixar sua terra porque o verde está se transformando em cinzas”, justifica.
Até fazer suas primeiras fotos e tentar a carreira na cara e coragem por um período pequeno em São Paulo, Noah foi empacotador numa fábrica de camisas e auxiliar de pintor na cidade sol. “Esses trabalhos me ajudaram a valorizar ainda mais o que eu tenho agora. Chegar até aqui não foi fácil. Minha família é bem humilde e tenho a chance de mudar tudo isso”, observa o garoto cabeça no lugar.
Foi o avô, índio, que o ajudou a comprar as passagens para que ele fosse “tentar a sorte na cidade grande”. “Ele pegou a aposentadoria e me deu para poder viajar. Minha avó, costureira, é minha fã número um e quando pode me ajuda no que for preciso. Inclusive fazendo minhas roupas. Faz tão bem que fica até melhor do que se eu tivesse comprado”, diz ele, que pretende aprender o ofício enquanto não retorna a São Paulo.
Inspirado em Gisele Bündchen, Noah espera que a moda também seja seu caminho. “Ela levou tantos nãos e chegou onde está, com persistência e disciplina. Sei que o mercado da moda é diferente para homens e mulheres, mas um dia quero servir de inspiraçao para outros jovens, indígenas como eu, para que também possam estar numa passarela”, planeja ele, que pretende cursar Odontologia: “Sei que é um curso caro, acima da minha possibilidade atual, mas como modelo posso ter a oportunidade de realizar esse objetivo”.
Fonte: Extra